O REMÉDIO NOSSO DE CADA DIA...
- Juliana I. T. da Rocha

- há 5 dias
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Primeiro, um clonazepan que devolva as noites de sono, depois um pouco de metilfenidato para concentração, depois um pouco de alguma coisa que dê energia, um anti depressivo que tire o choro e a angústia, um pouco disso, um pouco daquilo, um pouco de tudo que me deixe bem. Mas de fato, que poder estes medicamentos assumiram ao ponto de determinarem a vida em sociedade?

Atualmente, ao observarmos o método de classificação das doenças,o DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ), percebemos que o número de patologias aumentou significativamente bem como o número de pessoas adoecidas aumentou na mesma proporção.
Alguns especialistas relatam que de fato, o que aumentou não foram às doenças, mas o número de diagnósticos, obviamente com o interesse de alguns profissionais que querem garantir sua fatia no mercado de trabalho bem como as indústrias farmacêuticas, que objetivam criar demandas para se ter um público consumidor. Estes diagnósticos tendem a transformar fenômenos do nosso cotidiano em algum tipo de síndrome ou transtorno, vejamos, tristeza, virou sinônimo de depressão, crianças travessas, viraram hiperativas, os mais desligados, devem ter déficit e assim por diante.

Desta forma, percebemos que estamos vivendo numa sociedade extremamente narcísica, que estabelece ideais de felicidade quase sempre inatingíveis e que, portanto, incentivam as pessoas ao uso de medicamentos que vendam essa ideia de suprir as nossas faltas e que nos deem a sensação de que somos todos iguais e perfeitos. Entretanto, nesta busca incessante, as pessoas acabam perdendo o que possuem de mais significativo, que é a singularidade humana. Uma sociedade só é capaz de produzir e desenvolver-se a partir das diferenças, são as experiências subjetivas de cada um que permitem que o outro nos influencie e seja influenciado por nós.
Existem momentos em que a medicação pode ser importante, mas quando ela é pensada como única forma de tratamento ou utilizada indiscriminadamente, acaba se tornando a vilã da história, pois o sintoma de um sujeito diz dele, de quem ele é, do que ele gosta e o que é capaz de ser, sendo assim, esconder a singularidade do sujeito com medicamentos é ter uma conduta intolerante que não respeita a riqueza das diferenças.


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