O CAMPO VIRTUAL E AS ANGÚSTIAS DOS JOVENS

O campo virtual tem sido um meio (talvez o único) de comunicação entre os jovens e, por essência, um meio angustiante. A angústia trazida ao consultório pelos mesmos sempre vem em discursos como "não ser amado, por isso foi bloqueado pelo amigo tal", "o quanto é uma pessoa ruim, por isso não foi colocado num grupo do whattsapp"... E isso diz exatamente da forma com que as coisas vêm sendo representadas na rede: nunca do campo do real, mas de uma representação, como um grande conjunto de signos, nunca um objeto total, cobrando do sujeito dar um sentido a elas, para a construção do conjunto simbólico que inferirá no seu campo psíquico.

Este processo, que aparentemente é simples, carrega em si toda a vida psíquica do sujeito, por isso, quando um jovem relata o fato de ser excluído de um grupo ou bloqueado, diz de um sentimento de profunda dor e assim questões da vivência humana, como amar e ser amado, amar e não ser amado, ser amado, mas não amar, gera todo um conflito que o destrói por dentro. As relações passam a ser mediadas pela visibilidade que assumem nas redes, pelos números de curtidas que possuem, pelo quanto os outros gostam daquilo que publicam. Essa cultura da exposição, ao qual faz acreditar que se possui algum controle, coloca-o numa postura extremamente vulnerável, construindo uma falsa completude, já que é apenas na relação direta de uma vida psíquica com outra vida psíquica, que o sujeito se desenvolve, é diante do desamparo na angústia do não saber, que se pode construir algum tipo de relação. A auto estima pode ser fortalecida a medida em que se para de tentar dar prova ( substantivo) ao Outro e passa-se a provar ( verbo), enquanto experiência significativa para a sua existência. Por isso, o incentivo ao contato com outro, numa relação direta, é sempre um incentivo a descoberta do para além das aparências, é um processo de reconhecimento da potência do ser. Ao jovem, cabe fazer esse mergulho, aos pais, cabem entrar neste mar imenso e acompanhá-los.